Apresentação

"Em tempos de engano universal, dizer a verdade é um ato revolucionário" (George Orwell)







Este blog é um espaço de reflexão e troca de experiências educativas na área de Filosofia para o Ensino Médio. Os materiais aqui postados tem por objetivo subsidiar o estudo tanto de professores quanto de alunos. Os textos serão de autoria própria, ou de autores da área, ou resultado de pesquisas em obras literárias e na web.



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Plano Filosofia 1º Ano do Ensino Médio - 1º Bimestre 2011

1º ANO – 1º BIMESTRE -2011


EIXO: O filosofar

COMPETÊNCIAS: 

  • Compreender e contextualizar conhecimentos filosóficos, no plano sociopolítico, histórico, metafísico e cultural.  
  • Aplicar conhecimentos filosóficos no plano existencial, nos projetos de vida e nas relações sociais.

HABILIDADES:

  • Ler textos filosóficos de modo significativo; 
  • Ampliar gradativamente o alcance da leitura filosófica;
  • Elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo; 
  • Debater, tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de posição face a argumentos mais consistentes;
  • Desenvolver no educando a capacidade de compreender a realidade, buscando respostas e caminhos diferentes para as mesmas questões, tanto no âmbito da escrita como da oralidade;
  • Desenvolver no educando a percepção de que a verdade é dialética e atemporal, não tendo nenhum segmento do conhecimento a exclusividade de sua posse.

CONTEÚDOS MÍNIMOS:

  • O que é filosofia
  • Diferença entre senso comum e conhecimento filosófico
  • Conceitos filosóficos básicos
  • Mito X Filosofia
  • O conceito de verdade
  • O conceito de natureza
  • O conceito de responsabilidade
Sugestões de Livros:


ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 4ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ARANHA, M. L. A e MARTINS, M.H. P. Filosofando. Introdução à Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna. 1993.

ARISTÓTELES, In: Reale, Giovanni (Ed.). Metafísica. São Paulo. Loyola, 2002. V. I.

BORNHEIM, G. Introdução ao Filosofar. São Paulo: Ed. Globo, 1989.

BRANDÃO, Juanito de S. Mitologia grega. Petrópolis: Vozes, 1991.

CHAUI, M. Convite ao Filosofar. São Paulo: Ed. Ática, 1997.

CORDI e outros. Para Filosofar. São Paulo: Scipione, 1999.

FOUCAULT, Michel. Sobre a Filosofia. In Estética dell’esistenza, Etica, Politica, v. 3.

FOUGEYROLLAS, P. A filosofia em questão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972.

GAARDER, Jostein. O que é Filosofia. In: O Mundo de Sofia. Companhia das Letras.

GILES, THOMAS. Introdução à filosofia. São Paulo: EPU/Edusp, 1979.

NIETZSCHE, Friedrich. Obras incompletas: São Paulo: Abril, 1974 p. 375 (Os Pensadores, 32)

Sugestões de Sites:
http://www.filosofia.pro.br/.

http://www.mundodosfilosofos.com.br/

http://www.video.globo.com/  - acione a busca pelo nome da autora: Viviane Mosé .

http://www.dominiopublico.com.br/ 


Sugestões de Filmes:

  • O Carteiro e o Poeta , 1994 , Direção: Michael Radford
  • Matrix , Irmãos Wachowski, 1999 
  • A Ilha, de Michael Bay de 2005
  • A Fuga das Galinhas - Chicken Run, Inglaterra, 2000


Sugestões de Textos:


O QUE É FILOSOFIA?



“Qual é a coisa mais importante da vida?"
Se fazemos essa pergunta a uma pessoa de um país assolado pela fome, a resposta será: a comida. Se fazemos a mesma pergunta a quem está morrendo de frio, então a resposta será: o calor. E quando perguntamos a alguém que se sente sozinho e isolado, então, certamente, a resposta será: a companhia de outras pessoas.

Mas, uma vez satisfeitas todas essas necessidades, será que ainda resta alguma coisa de que todo mundo precise? Os filósofos acham que sim. Eles acham que o ser humano não vive apenas de pão.

É claro que todo mundo precisa de comida, de amor e de cuidado. Mas ainda há uma coisa de que todos nós precisamos. Nós temos a necessidade de descobrir quem somos e por que vivemos.

(...) Embora as questões filosóficas digam respeito a todas as pessoas, nem todas se tornam filósofos. Por diferentes motivos, a maioria delas é tão absorvida pelo cotidiano que a admiração pela vida acaba sendo completamente reprimida. Um filósofo nunca é capaz de se habituar completamente com este mundo. Para ele, o mundo continua a ter algo de incompreensível, algo até de enigmático, de secreto, embora a maioria das pessoas vivencie o mundo como uma coisa absolutamente normal. Isso quer dizer que ele sempre vê as coisas com espanto, a admiração ou a curiosidade, como se fosse a primeira vez.

(...) Em algum lugar, dentro de nós, alguma coisa nos diz que a vida é um grande enigma. E já experimentamos isto, muito antes de aprendermos a pensar. ”

GAARDER, Jostein. O que é Filosofia. In: O Mundo de Sofia. Companhia das Letras.

O que é a filosofia senão um modo de refletir, não tanto sobre aquilo que é verdadeiro e aquilo que é falso, mas sobre a nossa relação com a verdade? (...) Não há nenhuma filosofia soberana, é verdade, mas há uma filosofia ou, melhor, há filosofia em atividade. A filosofia é o movimento pelo qual nos libertamos – com esforços, hesitações, sonhos e ilusões – daquilo que passa por verdadeiro, a fim de buscar outras regras do jogo. A filosofia é o deslocamento e a transformação das molduras de pensamento, a modificação dos valores estabelecidos, e todo o trabalho que se faz para pensar diversamente, para fazer diversamente, para tornar-se outro do que se é (...)
FOUCAULT, Michel. Sobre a Filosofia. In Estética dell’esistenza, Etica, Politica, v. 3.


AUTORIDADE DO MITO


“O mito conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve lugar no começo do Tempo, ab initio. Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um mistério, pois as personagens do mito não são seres humanos: são deuses ou Heróis civilizadores. Por esta razão suas gesta constituem mistérios: o homem não poderia conhecê-los se não lhe fossem revelados. O mito é pois a história do que se passou in illo tempore, a narração daquilo que os deuses ou os Seres divinos fizeram no começo do Tempo. “Dizer” um mito é proclamar o que se passou ab origine. Uma vez “dito”, quer dizer, revelado, o mito torna-se verdade apodítica: funda a verdade absoluta. “É assim porque foi dito que é assim”, declaram os esquimós netsilik a fim de justificar a validade de sua história sagrada e suas tradições religiosas. O mito proclama a aparição de uma nova “situação” cósmica ou de um acontecimento primordial. Portanto, é sempre a narração de uma “criação”: conta se como qualquer coisa foi efetuada, começou a ser É por isso que o mito é solidário da ontologia: só fala das realidades, do que aconteceu realmente, do que se manifestou plenamente.”

O Sagrado e o Profano - Mircea Eliade


A MARAVILHA COMO INÍCIO DO FILOSOFAR



"A maravilha sempre foi, antes como agora, a causa pela qual os homens começaram a filosofar: a princípio, surpreendiam-se com as dificuldades mais comuns; depois, avançando passo a passo, tentavam explicar fenômenos maiores, como, por exemplo, as fases da lua o curso do sol e dos astros e, finalmente, a formação do universo. Procurar uma explicação é admirar-se; é reconhecer-se ignorante. Por isso, pode-se dizer que sob certo aspecto o filósofo é também amante do MITO: uma vez que o MITO se compõe de maravilhas."

Aristóteles, In: Reale, Giovanni (Ed.). Metafísica. São Paulo. Loyola, 2002. V. I.


FEBRE JÔNICA

Quando a Babilônia e o Egito declinaram chegou a vez da Grécia. No começo, desenvolveu-se a cosmologia grega quase no mesmo sentido: o mundo de Homero é outra ostra, mais colorida, um disco flutuante rodeado pelo oceano. Porém, pela época em que os textos de Odisséia e da Ilíada se consolidaram na versão definitiva, verificou-se na Jônia, nas costas do Mar Egeu, um novo desenvolvimento. O sexto século antes de Cristo – o milagroso século de Buda, Confúcio e Lao-Tsé, dos filósofos jônicos e de Pitágoras – constituiu o ponto crítico da espécie humana. Foi como se uma aragem de março soprasse através deste planeta, da China a Samos, despertando a consciência do homem, como o sopro nas narinas de Adão. Na escola jônica de filosofia, o pensamento racional ia emergindo no mundo de sonho mitológico. Era o início da grande aventura: a indagação prometiana* das explicações naturais e causas racionais, que, nos 2 mil anos seguintes, transformaria a espécie mais radicalmente do que haviam feito os 200 mil anos anteriores.

Koestler, Arthur. Os sonâmbulos. São Paulo: Ibrasa, 1961, p. 5.

*Prometiano: próprio de Prometeu, personagem da mitologia grega que roubou o fogo aos deuses e o entregou aos homens, dando-lhes a possibilidade do conhecimento e do progresso. Zeus o puniu, acorrentando-o numa rocha para que uma águia lhe devorasse o fígado eternamente.



A FILOSOFIA COMO PROCURA DA VERDADE

Em seu pequeno e brilhante livro Introdução à Filosofia, o filósofo e psiquiatra alemão, Karl Jaspers insiste na idéia de que a essência da filosofia é a procura do saber e não a sua posse. Todavia, ela “se trai a si mesma quando degenera em dogmatismo, isto é, num saber posto em fórmula, definitivo, completo. Fazer filosofia é estar a caminho; as perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas, e cada resposta transforma-se numa nova pergunta”. Há, então, na pesquisa filosófica uma humildade autêntica que se opõe ao orgulhoso dogmatismo do fanático: o fanático está certo de possuir a verdade. Assim sendo, ele não tem mais necessidade de pesquisar e sucumbe à tentação de impor sua verdade a outrem. Acreditando estar com a verdade, ele não tem mais o cuidado de se tornar verdadeiro; a verdade é seu bem, sua propriedade, enquanto para o filósofo é uma exigência. No caso do fanático, a busca da verdade degradou-se na ilusão da posse de uma certeza. Ele se acredita o proprietário da certeza, ao passo que o filósofo esforça-se por ser peregrino da verdade. A humildade filosófica consiste em dizer que a verdade não pertence mais a mim que a ti, mas que ela está diante de nós. Assim, a consciência filosófica não é uma consciência feliz, satisfeita com a posse de um saber absoluto, nem uma consciência infeliz, presa das torturas de um ceticismo irremediável. Ela é uma consciência inquieta, insatisfeita com o que possui, mas à procura de uma verdade para a qual se sente talhada.

HUISMAN, Denis; VERGEZ, A. Ação. 2. ed. SP: Freitas Bastos, 1966, v. 1, p. 24.


POEMA

”Sozinho vou agora, meus discípulos! Também vós, ide embora, e sozinhos! Assim quero eu.

Afastai-vos de mim e defendei-vos de Zaratustra! E, melhor ainda: envergonhai-vos dele! Talvez vos tenha enganado.

O homem do conhecimento não precisa somente amar seus inimigos, precisa também poder odiar seus amigos.

Paga-se mal a um mestre, quando se continua sempre a ser apenas o aluno. E por que não quereis arrancar minha coroa de louros?

Vós me venerais, mas, e se um dia vossa veneração desmoronar? Guardai-vos de que não vos esmague uma estatua!

Dizeis que acreditais em Zaratustra? Mas que importa Zaratustra ! Sois meus crentes, mas que importam todos os crentes!

Ainda não vos havíeis procurado: então me encontrastes. Assim fazem todos os crentes; por isso importa tão pouco toda crença.

Agora vos mando me perderdes e vos encontrardes; e somente quando me tiverdes todos renegado eu retornarei a vós... Apesar do inverno mais rigoroso, e do verão ainda, mais inclemente, por causa do aquecimento global, (meu caro, Alvani Correia), aproveito os momentos de dúvidas, depois de uma leitura em voz alta deste poema, para compartilhar a solidão a dois, como nos ensina Baruch Spinosa. Afinal, o príncipe dos filósofos moderno, já dizia que “não existem bem e mal como ensina a tradição judaico-cristã, mas apenas o bom e o mau encontro”.

NIETZSCHE, Friedrich. Obras incompletas: São Paulo: Abril, 1974 p. 375 (Os Pensadores, 32)

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